Famílias locais cultivam mais que uvas: criam legados que impulsionam a cultura e o turismo regional
O Dia Nacional do Vinho, celebrado no Brasil no primeiro domingo de junho, é uma data que ganha cada vez mais significado em Guarapuava. A região apresenta condições climáticas e geográficas favoráveis para a produção de uvas, o que impulsiona o crescimento da vitivinicultura local. Iniciativas como o Programa de Revitalização da Viticultura Paranaense, o Revitis, criado em 2019, têm sido fundamentais nesse processo.
O programa atua em quatro eixos: incentivo à produção, reorganização da comercialização, desenvolvimento do turismo e apoio à agroindústria. Além disso, o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) presta assistência contínua aos viticultores da região.
Entre as histórias inspiradoras desse cenário em expansão está a da Vinícola Horst. Adalberto e Joelma sempre sonharam em adquirir um sítio para fugir da agitação urbana. Em 2017, compraram uma propriedade com gado, mas logo perceberam que buscavam algo diferente. Em um fim de semana chuvoso, visitaram a Vinícola Araucária, em São José dos Pinhais, e se encantaram. Foi ali que surgiu a pergunta que mudaria suas vidas: “E se fizéssemos isso em Guarapuava?”.
A ideia amadureceu e, em 2020, o casal deu início ao projeto. Adalberto iniciou um curso de sommelier e Joelma ingressou em uma disciplina de viticultura e enologia em um curso de pós-graduação da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). Com o apoio de um amigo no Rio Grande do Sul, importaram 10 mil mudas de uvas europeias (vitiviníferas) e, com a ajuda das famílias, plantaram todas em uma semana — entre os dias 2 e 9 de novembro de 2020. Foi nesse período de união e trabalho que decidiram o nome da vinícola: Vinícola Horst.
O cultivo de uvas finas exige atenção ao solo, que precisa ser profundo, bem drenado e com pH entre 5,5 e 6,5 para garantir a qualidade das videiras. O período de dormência, no final do outono e inverno, é um momento crucial para o desenvolvimento das plantas, já que elas aparentam estar inativas, mas se preparam para o crescimento.
A primeira colheita da Vinícola Horst, em 2023, rendeu 5 mil quilos de uvas e resultou em 4 mil garrafas de vinho. Como as uvas são de cultivo perene, os vinhedos tendem a produzir por até 35 anos, com vinhos de maior valor agregado à medida que as videiras envelhecem.
Hoje, a vinícola tem parcerias com a Unicentro e com o Colégio Agrícola, oferecendo cursos e estágios voltados à produção de vinhos orgânicos. Também integra a Associação de Viticultores do Sul do Paraná, que reúne produtores de Foz do Iguaçu, Pitanga, Inácio Martins e da Colônia Witmarsum.
Outra referência em Guarapuava é a Casa Magda, localizada entre os rios Jordão e Bananas. A vinícola nasceu de uma história familiar. Juliano Cardoso, neto dos fundadores, decidiu investir no cultivo de uvas após uma viagem a Bento Gonçalves, em 2021. Trouxe mudas de uvas europeias e plantou as primeiras parreiras com o objetivo de resgatar as origens da família, que veio do Rio Grande do Sul e da Itália.
O terroir, conjunto de fatores naturais e humanos que influenciam o sabor e as características únicas, da região apresenta características semelhantes às da Serra Gaúcha e de vinícolas argentinas que produzem o tradicional Malbec, fatores que fortaleceram a decisão de seguir com o projeto. A vinícola homenageia Magda, mãe de Juliano, que residia na propriedade. Seu legado está presente nos rótulos, como o “Mamina” (mãe, em italiano) e o “Rosas de Magda”, inspirado nas rosas que cultivava no sítio. Este último conta com versões em rosé e branco, produzidos com uvas italianas e simboliza os três filhos da matriarca.
Hoje, a Casa Magda produz cerca de 5 mil garrafas por ano e tem como meta alcançar 15 mil nos próximos anos. A vinícola se transformou em um verdadeiro complexo de viticultura, com restaurante aberto nos finais de semana, eventos para a comunidade e visitas guiadas que incluem degustação de vinhos e passeios pelas parreiras.
Guarapuava, tradicionalmente reconhecida pela produção de malte, agora desponta como um novo polo do enoturismo no Paraná. Com histórias marcadas pela paixão, tradição familiar e inovação, a cultura do vinho cresce na região, impulsionando o turismo, a agricultura e a identidade local.]