CIDADE DO VATICANO — Em um momento de profunda comoção para os 1,3 bilhão de católicos do mundo, a morte do Papa Francisco nesta segunda-feira (20) desencadeou não apenas um período de luto, mas também os preparativos para um dos processos mais enigmáticos e tradicionais da Igreja: o Conclave. Entre os 138 cardeais eleitores — aqueles com menos de 80 anos —, sete são brasileiros. E, em um detalhe que chama a atenção, três deles nasceram em Santa Catarina, um estado que, apesar de sua pequena população católica em comparação com outras regiões do Brasil, pode desempenhar um papel crucial na escolha do próximo líder da Igreja.
Os Três Homens de Santa Catarina que Podem Moldar o Futuro da Igreja
- Dom Jaime Spengler, 68 anos (Gaspar, Vale do Itajaí)Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Porto Alegre, Spengler foi elevado ao cardinalato pelo próprio Papa Francisco em 2023. Com um doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, ele é visto como um intelectual com profundo conhecimento teológico e uma postura pastoral alinhada aos valores do pontificado anterior. Sua voz no Conclave pode ser decisiva, especialmente em debates sobre a continuidade das reformas iniciadas por Francisco.
- Dom João Braz de Aviz, 77 anos (Mafra, Vale do Itajaí)O mais velho dos cardeais brasileiros com direito a voto, Braz de Aviz já participou do Conclave de 2013, que elegeu Francisco. Ex-prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada no Vaticano, ele é um nome respeitado na Cúria Romana e tem experiência em governança eclesiástica. Sua idade — próximo do limite para votar — faz deste seu provável último Conclave, o que pode influenciar seu voto em direção a um papa que garanta transição ou continuidade.
- Dom Leonardo Steiner, 71 anos (Forquilhinha, Sul de SC)Arcebispo de Manaus e o primeiro cardeal da Amazônia, Steiner representa não apenas Santa Catarina, mas toda a região pan-amazônica, tema central no pontificado de Francisco. Sua nomeação, em 2022, foi vista como um reconhecimento da importância da floresta e dos povos indígenas para a Igreja. No Conclave, ele pode ser uma voz pela "Igreja da Periferia" e por uma abordagem mais incisiva em questões ecológicas e sociais.
O Peso de Santa Catarina em um Momento Histórico
A presença de três cardeais de um único estado brasileiro no Conclave é um fenômeno raro. Santa Catarina, conhecida por sua forte colonização europeia e tradição católica, tem apenas 7% da população nacional, mas agora vê seus filhos em posição de influenciar uma decisão que ecoará por toda a Igreja.
Enquanto o Vaticano se prepara para os ritos que antecedem a eleição — a missa pro eligendo Pontifice e o juramento de sigilo —, os olhos do mundo se voltam não apenas para Roma, mas também para o Brasil. E, dentro dele, para Santa Catarina, que pode ajudar a escrever a próxima página da história do catolicismo.
O Conclave, marcado por séculos de tradição e simbolismo, começará em alguns dias, sob os afrescos da Capela Sistina. E, quando a fumaça branca subir, Santa Catarina poderá dizer que esteve lá — não apenas como espectadora, mas como protagonista.