"No Silêncio da Madrugada, o Som de Dois Socos: A História que se Repete no Boqueirão"

                       Imagem criada para ilustrar o fato 


Bairro: Boqueirão.

A madrugada de domingo em Guarapuava é um bicho diferente. Não tem a algazarra do sábado, tem um silêncio pesado, cortado apenas pelo ronco de motores cansados e pelo latido de cachorros que respondem a assombrações que só eles veem. Foi nesse vácuo, nesse vão entre um dia que não quis acabar e outro que não quer começar, que o rádio cuspiu o chamado: Violência Doméstica.

O endereço era uma casinha geminada no Boqueirão, dessas que têm uma roseira na frente tentando enfeitar uma vida azeda. A viatura chegou devagar, como quem não quer interromper um ritual antigo. Do lado de fora, o cheiro de cerveja barata e desespero já vinha pela fresta da porta.

Dentro, o espetáculo da degradação. Ela, uma menina de 18 anos – ainda com cheiro de adolescência, de futuro pela frente – encolhida no sofá. O rosto oval, que devia ser bonito, agora era um mapa de vergonha e dor. Dois medalhões roxos na face, a assinatura de um animal. Mais dois nas costas, os golpes covardes de quem ataca pela retaguarda, igual rato.

O "amásio", um homem de 31 anos que já devia ter juízo, estava de pé, cambaleante. Não era a raiva que sustentava ele, era o álcool de balde, a coragem falsa de pinga e frustração. O suor do trabalho braçal no frio da noite se misturava com o fedor da cachaça e do ódio. Ele chegou em casa não para descansar, mas para descontar nos ossos da companheira a própria miséria de existir.

O relato dela saía aos soluços, entrecortado. Dois socos na cara porque a janta não estava pronta. Dois nas costas quando ela tentou fugir, virar as costas para o monstro. A cena era clássica, um roteiro batido que a gente vê repetir até a exaustão nesta cidade.

Não deu para conversar. Com bêbado e com louco, a lei é outra. A voz de prisão ecoou na sala apertada, um formalismo necessário diante de tanta selvageria. Ele não reagiu. O ânimo dele tinha ido embora junto com os murros que desferiu.

Foram todos para a Delegacia de Polícia Judiciária, ele na viatura, olhando para as mãos vazias; ela no outro carro, olhando para o vazio do próprio futuro.

E assim, mais um capítulo se escreve na longa e triste crônica da violência entre quatro paredes em Guarapuava. Enquanto isso, a cidade dorme. E o Boqueirão guarda mais um segredo

GUARAPUAVA FATOS

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