Local: Avenida Vereador Rubens Siqueira Ribas, Boqueirão.
O sol das sete da manhã ainda tentava queimar a cerração do amanhecer no Boqueirão, mas a luz já era suficiente para iluminar mais um capítulo da imprudência que assola esta cidade. O chamado era de um sinistro, daqueles que o boletim classifica como "não identificado" – um eufemismo burocrático para quando a história vem pela metade.
No asfalto da Rubens Siqueira Ribas, sentido Trianon-Vila Jordão, estava a resposta: uma HONDA XRE 300, a fera de duas rodas, derrotada e deitada na sarjeta. Ao lado dela, a figura do condutor. Um rapaz de 22 anos, a idade da invencibilidade, da sensação de que o asfalto é um tapete e a cidade, um playground. Só que a invencibilidade tem dono, e não é a juventude.
Ele, o cavaleiro moderno, não portava a sua espada legal: nem Carteira Nacional de Habilitação, nem Permissão para Dirigir. Conduzia uma máquina potente na pura audácia, acreditando que a sorte é um capacete invisível. Não é. No fim das contas, o asfalto é o maior professor de humildade.
O relato é sempre o mesmo, um disco riscado que a gente ouve toda semana: "perdeu o controle da direção". Perdeu. Como se o controle fosse um objeto solto, que cai do bolso. A verdade é mais crua: o controle nunca foi plenamente possuído. A moto, de documentação impecável, cumpriu sua parte mecânica. O piloto, não.
A queda foi fora da pista. Uma saída de cena dramática para um espetário de uma plateia só. O SAMU veio, fez o seu papel de recolher os cacos – os do corpo e os da dignidade. Levaram o jovem para o hospital, onde as doens físicas seriam tratadas. As marcas na consciência, essas ficam de lembrança.
A XRE 300, agora um animal ferido e silencioso, foi levada de reboque para o pátio do 16º BPM. Vai ficar lá, encostada, enquanto seu dono aprende da maneira mais dura que a liberdade sobre duas rodas começa com a responsabilidade de um documento no bolso.
E assim, no começo de mais um domingo em Guarapuava, a lição foi dada. Resta saber se será aprendida.
