A Bateria, o Crack e os Dois Atores: Uma Noite em Pitanga

                         Imagem criada para ilustrar o fato 


A noite de 19 de outubro em Pitanga, na região central do Paraná, parecia composta de camadas. Uma história simples à primeira vista escondia outra, mais profunda e sombria, que só veio à tona porque uma mulher decidiu carregar o peso de uma bateria de caminhão.

Tudo começou com um furto. Um caminhão parado, uma via pública, e uma mulher que, não se sabe por quais caminhos da decisão, subtraiu uma bateria. A vítima, um homem de 26 anos, não foi apenas uma testemunha passiva; ele sabia a identidade da suposta autora. E esse conhecimento direcionou as lanternas da ROTAM – a Rondas Táticas Metropolitanas – para um rosto específico.

E então, eles a viram. Uma figura feminina, carregando não um objeto qualquer, mas o peso pesado e inconfundível de uma bateria automotiva. A imagem por si só já era uma narrativa de esforço e desespero. Ao perceber a aproximação policial, o instinto de fala falou mais alto: ela arremessou a bateria no chão. Um gesto de abandono, de tentativa de se desfazer não só da prova, mas do próprio ato. E então, correu. Tentou desaparecer entre as casas, nas frestas da cidade.

Foi localizada, abordada. Uma mulher de 44 anos. E diante dos agentes, não houve negações. Ela confirmou o furto. E então, ofereceu a chave que explicava não apenas aquele momento, mas provavelmente uma sucessão de outros: era usuária de crack. E que, para sustentar o vício, havia realizado outros furtos, já registrados nos arquivos da polícia. A confissão era um ato de rendição a um ciclo maior do que ela. Foi presa e encaminhada.

O Segundo Ato: A Casa e as Anotações

Mas a noite em Pitanga não terminaria ali. O fio puxado pela mulher de 44 anos levou a um novelo mais complexo. Em diligências subsequentes, a equipe abordou dois adolescentes. E aqui, uma surpresa: não houve resistência, nem mentiras. Eles confirmaram, de forma quase burocrática, que possuíam drogas em casa e franquearam o acesso.

Dentro da residência, o que se encontrou foi mais do que um estoque de entorpecentes; era a materialização de um pequeno negócio do submundo. Dezoito porções de crack (13,5 gramas no total), uma porção de cocaína, outra de maconha. Mas os produtos iam além das drogas: seis aparelhos celulares, 56 reais em dinheiro, uma TV de 32 polegadas. Todos eles, "produtos sem comprovação de procedência", um eufemismo policial para coisas que carregam histórias de outras perdas, outros furtos.

E, talvez o item mais significativo de todos: anotações. Papéis com registros da venda de drogas. A burocracia do ilícito, a planilha do caos.

Os adolescentes foram apreendidos, o conselho tutelar acionado. Dois atores em início de carreira no mesmo palco que a mulher de 44 anos já habitava há tempos.

A noite em Pitanga deixou, portanto, uma pergunta que se repete em centenas de cidades brasileiras: o que veio primeiro, a demanda desesperada da usuária que rouba baterias, ou a oferta organizada dos adolescentes que anotam suas vendas? É a história de sempre, apenas com novos nomes, novos endereços, e as mesmas velhas tragédias.

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