A noite de 20 de outubro no Morro Alto, em Guarapuava, era mais uma na rotina do patrulhamento. Até que não era.
O olhar treinado da equipe policial pousa sobre um grupo de homens. Não há crime em estar na rua, mas existe uma linguagem corporal que a experiência reconhece: a postura, o olhar, o ritmo que destoa do ambiente. Eles estavam em um momento, um propósito, que se desfez no instante em que perceberam os faróis da viatura.
Foi como um interruptor sendo desligado. A cena se quebrou. A ordem de abordagem foi dada, mas em vez de paralisar, os corpos se lançaram em fuga. Uma sequência de atos precipitados: o correr, o pular cercas, a dissolução nas sombras. A geometria simples da desobediência.
No meio do tumulto, um deles ficou para trás. E, num gesto tão significativo quanto a fuga dos outros, ele dispensou um saco plástico. Abandonou-o como se desfazendo de uma evidência, ou de um fardo.
Dentro do saco, não havia drogas ou dinheiro. Havia ferramentas. Sete delas, dispostas com uma precisão que sugeria intenção:
1 chave de fenda.
2 chaves combinadas, estrela e boca.
2 chaves em L, versáteis e discretas.
2 chaves de torque, para forçar, para vencer resistências.
Um conjunto meticuloso. Um kit de trabalho. Mas qual trabalho?
O homem de 31 anos, agora identificado, foi confrontado com a materialidade desses objetos. De onde vieram? Para que exatamente seriam usadas naquela noite? As chaves, de aço frio, não falam. E o homem, de carne e osso, também não soube – ou não quis – dizer.
Ele foi encaminhado com o seu silêncio e com as sete ferramentas para a Polícia Judiciária. O procedimento seguirá seu curso.
E a cena fica, suspensa no ar noturno do Morro Alto: um saco plástico no chão, um conjunto de chaves que abrem ou forçam coisas, e a pergunta que o relatório não responde: qual era a fechadura que aquelas mãos, naquela noite, pretendiam vencer?