Era fim de tarde de uma segunda-feira, 20 de outubro, no Morro Alto, em Guarapuava. O horário em que a luz começa a falhar e a rotina deveria estar levando um jovem de 18 anos para casa. Mas a rotina foi interrompida por uma ordem curta e seca, a que todos temem ouvir: “É um assalto”.
Dois homens. Dois estranhos que emergiram do cenário comum da rua e, de repente, se tornaram os protagonistas de um medo real. Um deles, segundo o relato do adolescente à polícia, empunhava uma pistola. O objeto metálico e frio, contra o corpo quente do medo, ditou as regras daqueles minutos.
A voz de roubo foi dada. E os bens, que são mais do que simples objetos, foram subtraídos.
Primeiro, a bicicleta. Não era apenas um veículo de locomoção. Era uma bicicleta aro 26, cor prata, com aros pretos. E, crucificada no quadro, uma frase irônica ou talvez um pedido de socorro não atendido: um adesivo que dizia “Deus abençoe o rolê”. O destino, naquele dia, pareceu ignorar a bênção.
Depois, o celular. Um aparelho XIAOMI REDMI A2, na cor preta. A porta de entrada para um mundo digital, que naquele momento se tornou apenas uma peça de evidência material, desconectada de sua dono.
A equipe policial chegou, cumpriu o protocolo. Patrulhamento pela área, buscas nas redondezas. Os rituais conhecidos da tentativa e resposta. Mas os dois autores, como costuma acontecer em narrativas assim, haviam se dissolvido na paisagem. Transformaram-se em sombras, em “indivíduos não localizados”.
O jovem de 18 anos, com sua rotina violada e seus pertences perdidos, recebeu as orientações de praxe. O registro foi feito, o BO aberto. A noite caiu sobre o Morro Alto, deixando para trás a pergunta que fica ecoando após a viatura se afastar: o que resta quando se leva não só uma bicicleta e um telefone, mas também uma sensação de segurança que, uma vez rompida, é muito mais difícil de recuperar?