Por Roberto Lobo
Foi o hediondo odor da morte, insuportável e penetrante, que finalmente fez a sociedade notar a ausência de um homem. Vizinhos, até então indiferentes à solidão ao lado, foram obrigados a acionar a Polícia Militar , no Bairro Santana. O cheiro era o grito silencioso de um corpo em avançado estado de decomposição, encontrado dentro de uma casa agora transformada em cena de um drama solitário.
Os PMs, diante do silêncio, arrombaram a porta. Lá dentro, a cena era desoladora: o corpo de um homem jazia ao lado da cama, vítima de uma morte cujas causas a perícia do IML e a Polícia Civil ainda terão de desvendar.
Ele vivia sozinho. Não foi visto há dias. Sua morte passou despercebida até que o cheiro da decomposição violou o conforto alheio, tornando-se um problema de todos.
É o retrato cru de uma realidade urbana e silenciosa: a solidão que mata e só é descoberta quando o mau cheiro incomoda. O sistema, da prevenção ao cuidado, falhou. E a vida, reduzida a um trâmite policial e a um incômodo olfativo, se foi sem alarde. O caso agora é um número, um protocolo, uma cena a ser limpa. Mas a pergunta que fica, ecoando naquela rua, é: quantos outros agonizam assim, invisíveis, à espera de um cheiro?
