Imagem gerada para ilustrar o texto !
Por Roberto Lobo, para o Guarapuava Fatos
GUARAPUAVA – A violência doméstica, em seus capítulos mais cruéis, não precisa de socos ou empurrões. Às vezes, ela se instala pela porta da frente com uma única frase, sussurrada como uma sentença.
Foi o que aconteceu com uma mulher de 26 anos, na manhã de ontem , no bairro Alto Cascavel, em mais um episódio que expõe a frágil linha que separa uma discussão de uma tragédia anunciada.
A equipe policial foi acionada para conter uma situação que já havia extrapolado os limites do suportável. No local, a vítima, com a voz ainda trêmula pela adrenalina e pelo medo, descreveu a cena: uma discussão com o ex-marido escalou para o nível mais primitivo do terror. O homem, em um ato de covardia que foge à qualquer racionalidade, não a ameaçou em um confronto face a face. Prometeu matá-la no momento de maior vulnerabilidade: enquanto ela dormia.
A ameaça, carregada de uma frieza calculista, transformou o lar, que deveria ser um refúgio, em uma cela de ansiedade. Diante dos policiais, no entanto, a realidade do ciclo da violência se impôs. Apesar da gravidade da promessa de morte, a mulher, em uma decisão que especialistas entendem como parte do complexo quadro de medo e dependência emocional, não autorizou a prisão do agressor. O pedido foi, aparentemente, mais simples e, ao mesmo tempo, mais revelador: que ele apenas se retirasse dali.
Eu que acompanho a nefastas ações destes covardes bem como os crimes diários nesta que é uma cidade-polo da região central do Paraná , reconheco um roteiro que repete-se todo dia nos B.OS da Polícia. A saída do agressor acalma a crise imediata, mas raramente interrompe o ciclo. A vítima assegurou aos agentes que, posteriormente, seguiria para a Delegacia da Mulher para adotar as medidas cabíveis – uma promessa que o sistema ouve com a esperança de que, desta vez, seja cumprida antes que seja tarde demais.
Para a Polícia Militar, cumpriu-se o protocolo. Orientaram a mulher sobre seus direitos e lavraram o boletim de ocorrência, um registro oficial da ameaça que agora pesa sobre aquela residência. O homem saiu de cena, mas a sombra de sua promessa ficou, trancada na casa do Alto Cascavel com uma mulher que, nesta noite, talvez tema fechar os olhos.
*Roberto Lobo cobre a região de Guarapuava e Centro-Sul do Paraná há 35 anos, com passagem por veículos locais e nacionais, especializado em cobertura politica e de segurança pública.*
