A CASA ABANDONADA , UM BOX E UMA BRIGA QUE TERMINOU COM A CHEGADA DA PM


 


Era uma casa como tantas outras no Morro Alto. Uma casa que guardava a memória de uma família nos fios desencapados e no box de acrílico do banheiro. Uma casa que, naquela terça-feira  de manhã de 21 de outubro, estava vazia. Silenciosa. Até que o silêncio foi quebrado não pelo som de uma chave na fechadura, mas pelo ruído surdo de um corpo escalando um muro.


A Cena

Às 8h30, o tempo parecia ter parado naquela rua. Foi nesse vácuo temporal que um jovem de 22 anos decidiu que aquela casa desabitada guardava algo de valor para ele. Não joias, não dinheiro. Um box de banheiro. Fiação elétrica. Itens que, para a maioria de nós, são invisíveis, parte da paisagem doméstica. Para ele, talvez, a promessa de uma refeição, o pagamento de uma dívida, ou simplesmente a sobrevivência de mais um dia.

Ele foi surpreendido não pela polícia, mas por vizinhos. Homens comuns que, em outro contexto, poderiam cumprimentá-lo na padaria. A fronteira entre o cotidiano e o conflito é tênue. O susto se transformou em perseguição. O jovem, encurralado, não reagiu com um revólver, mas com o que tinha à mão: uma cadeira. O gesto era de desespero, não de crueldade calculada. O objeto voou e encontrou a mão de um dos homens, marcando seu dedo médio – um ferimento que seria, dali pra frente, a cicatriz física daquele dia.

O que se seguiu foi aquilo que os boletins de ocorrência chamam de "luta corporal". Dois ou mais corpos se entrelaçando num baile desengonçado de força e medo. O resultado, previsível, foi um corte no supercílio direito do jovem. Sangue, suor e a adrenalina do confronto misturaram-se no chão da casa que não era de ninguém e, naquele momento, era de todos.

O Desfecho (e o Início)

A lei chegou, colheu os depoimentos, registrou os ferimentos. Um Termo Circunstanciado foi lavrado. As partes foram liberadas. O sistema funcionou como manda o protocolo: um incidente resolvido, um caso arquivado.

Mas uma pergunta fica no ar, ecoando na casa vazia: o que leva um homem de 22 anos a arriscar sua liberdade, sua integridade, por um box de banheiro e um punhado de fios de cobre?

O Termo Circunstanciado não tem espaço para essa resposta. Ele registra o "o quê", o "onde" e o "quando". Cabe a nós, no silêncio depois que as sirenes se foram, tentar entender o "porquê". Esta história, como tantas outras que acontecem nas periferias do Brasil todos os dias, não termina com a liberação das partes. Ela apenas faz uma pausa.

A casa em Morro Alto continua vazia. Esperando pelo próximo morador, ou pelo próximo intruso.

GUARAPUAVA FATOS

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